Jovem denuncia pastor por assédio sexual em Tanabi; caso está no Fórum em investigação

Jovem denuncia pastor por assédio sexual em Tanabi; caso está no Fórum em investigação

ATENÇÃO: Depoimento completo da vítima disponível ao final da matéria.

O pastor líder da comunidade, ao saber do ocorrido, orientou Mariana a não contar a ninguém sobre o caso. Mariana decidiu revelar os abusos após anos, já morando fora do Brasil. Sua mãe, ao confrontar o Pastor, conseguiu uma confissão gravada em áudio, que foi apresentada à polícia.

O Tanabi Notícias teve acesso ao boletim de ocorrência que resultou na instauração de um inquérito policial, atualmente em tramitação no Fórum de Tanabi. O caso envolve uma acusação de assédio sexual, com Mariana Alves Silva como vítima e um Pastor de Jovens como acusado. Mariana relata que, aos 13 anos, enquanto participava de uma Comunidade Evangélica em Tanabi, foi alvo de toques inapropriados e comportamento indecente por parte do pastor, que também era líder do ministério de louvor. Ela também narra um episódio em que o Pastor expôs sua genitália via webcam e se masturbou durante uma conversa online.

O jornalista Samir Cesar do Tanabi Notícias conversou com Mariana, uma das vítimas de assédio sexual, que atualmente reside no Qatar. Mesmo muito abalada emocionalmente, Mariana demonstrou força e coragem ao decidir expor seu caso ao público, buscando justiça após anos de sofrimento. Determinada a impedir que outras pessoas passem pela mesma situação, ela compartilha sua história, mesmo com a diferença de fuso horário – o Qatar está 6 horas à frente de Tanabi – e a distância geográfica, reforçando seu compromisso de lutar pelos seus direitos e conscientizar a sociedade sobre a gravidade desse tipo de violência.

Na íntegra cópia do depoimento da vítima Mariana a Policia Civil de Tanabi.  O nome do averiguado foi substituido por “Pastor de Jovens” e o nome do Pastor Líder da Igreja, por “Pastor Sênior”.

“Sou moradora da cidade de Doha, no Qatar, há cinco anos, contudo fui nascida e criada na cidade de Tanabi e, desde muito pequena, frequentei a igreja, que posteriormente se desmembrou em duas, sendo uma delas a Comunidade, na qual  o Pastor de Jovens era um dos membros e tinha o Pastor Sênior, sendo estes considerados “líderes espirituais”. Havia o “Ministério de Louvor”, o qual faz parte da música da comunidade e dos cultos, do qual eu e o Pastor de Jovens éramos partes. O Pastor de Jovens era um homem casado e era um “pastor de jovens adolescentes” e “líder do louvor”. Com 13 anos, eu seguia muito os princípios da igreja, nunca tinha namorado e nem mesmo beijado ninguém, pois era contra os princípios da igreja. Durante as rodas de orações, nos momentos em que todos de abraçavam ou cumprimentavam, o Pastor de Jovens fazia questão de passar a mão e esbarrar nos meus seios e nádegas, fazendo parecer que era “sem querer”, contudo era muito comum que acontecesse e me deixava muito desconfortável, mas não entendia, na época, o quão errada era sua atitude. O pastor de Jovens era uma pessoa de confiança de minha mãe, pois ela também fazia parte da comunidade e o tinha como um homem exemplar, bem como o Pastor Sênior. O Pastor de Jovens frequentava minha casa, na companhia de sua esposa e filhos e conversava muito comigo, pois tinha a função de repassar aos adolescentes que “comandava” os áudios de música, partituras e devocionais que deveriam ser feitos e também era considerado um “aconselhador”, sendo que, diante de um problemas, os jovens o procuravam. Naquela época, isso nos era passado pela rede social “Orkut” e pelo bate-papo “MSN” e, certo dia, eu estava em casa, conversando com o Pastor de Jovens pelo MSN, sobre coisas da igreja, quando, de repente, ele virou a webcam para sua genitália, abaixou as calças, mostrando seu pênis ereto, passando a se masturbar, sendo que fiquei com medo e muito assustada e desliguei minha webcam. Logo em seguida, o Pastor de Jovens mandou mensagens, dizendo: “Me desculpa, me perdoa, eu errei, por favor não fala nada para ninguém”. Fiquei muito assustada e com crises de ansiedade devido à situação. Cerca de dois dias depois, eu estava na igreja para um ensaio e o pastor Sênior me chamou, dizendo que “precisava falar comigo na salinha do pastor”, o que acontecia quando algum membro da igreja tinha cometido algum erro que o desagradasse. Fui com ele para a sala, sozinhos, e, lá, ele me disse: “O Pastor de Jovens me confessou o pecado dele e eu vou tratar a vida do pastor de jovens de acordo com a palavra. Eu quem vou cuidar. Eu quem vou tratar dele, então não é para contar para ninguém, para nenhum líder de célula, para nenhum membro da igreja, nem para sua mãe, pois sua mãe é muito brava e vai causar problemas para a igreja”. Eu estava assustada e apenas concordava com o que ele dizia. Ainda o Pastor Sênior finalizou dizendo: “O pecado dele, ele já me confessou, mas e você?! O que você estava fazendo depois das 22h na internet? Você deveria orar mais, vigiar mais, ao invés de ficar na internet, para não “dar brecha”!”. Depois dessa situação, o Pastor de Jovens se afastou e eu não chegava perto dele, que conversava comigo como se nada tivesse acontecido. Apenas fui contar sobre este fato para meus familiares quando já tinha cerca de 30 anos, quando já morava fora do país e vim visitá-los, há cerca de um ano e meio, sendo que, alguns meses após eu ir embora, na data de 24/04/2022, minha mãe, que já não era mais da igreja, chamou o Pastor de Jovens e a esposa dele, para irem à casa dela conversar, sendo que eles foram, no dia seguinte, à casa de minha mãe, onde o Pastor de Jovens confessou o que fez, após minha mãe indagá-lo, tendo ela gravado a conversa por áudio, que apresento neste ato. Irei embora para o Qatar no próximo domingo e decidi efetuar a denúncia para que os fatos sejam apurados. Sabem dos fatos minha mãe e meu irmão, e sei que o Pastor de Jovens ainda é membro da igreja desta cidade. Caso ainda caiba representação, desejo representar contra o Pastor de Jovens para que seja processado pelo crime contra mim cometido.”

O inquérito foi instaurado pela Polícia Civil de Tanabi, e o caso está sendo investigado com base no artigo 216-A do Código Penal, que trata de assédio sexual. Foram solicitadas as oitivas de testemunhas, incluindo o pastor Líder da Comunidade e os familiares de Mariana. O processo, que inicialmente corria em segredo de justiça, teve um pedido para a remoção dessa condição por parte da vítima, que busca maior transparência no andamento do caso.

Samir Cesar / Tanabi Noticias